Estudo brasileiro identifica cancro colorrectal mais agressivo em jovens adultos

Estudo brasileiro identifica cancro colorrectal mais agressivo em jovens adultos

Um trabalho conduzido no Hospital Universitário de Brasília indica que o cancro colorrectal apresenta um comportamento mais agressivo em adultos com idades entre 18 e 49 anos quando comparado com doentes com mais de 50. A investigação avaliou 434 pacientes operados entre 2010 e 2020 e acompanha-os, no mínimo, durante três anos.

Recorrência quase duplica nos doentes mais novos

Dos 434 casos analisados, 78 pertenciam ao grupo mais jovem, composto por 58,97 % de mulheres e 41,03 % de homens. Os restantes 356 doentes tinham mais de 50 anos (55,06 % mulheres e 44,94 % homens). Segundo os autores, liderados pelo cirurgião André Silva, os doentes até aos 49 anos apresentaram um risco de recidiva 93 % superior face aos mais velhos, além de uma maior proporção de tumores indiferenciados, caracterizados por crescimento celular desorganizado e rápida proliferação.

Os resultados serão apresentados no 73.º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, marcado para São Paulo entre quarta-feira e sábado. O objetivo principal foi traçar o perfil do cancro colorrectal em adultos jovens e avaliar o impacto na sobrevida livre de doença e na sobrevida global.

Tendência de aumento antes dos 50 anos

Relatórios internacionais, como o divulgado em janeiro de 2024 pela American Cancer Society, já apontavam para a subida das taxas de cancro colorrectal nas faixas etárias dos 20, 30 e 40 anos. Fatores como sedentarismo, obesidade, padrões alimentares e ausência de rastreio regular são apontados como possíveis motores deste crescimento.

Em declarações sobre o estudo, André Silva lembra que, apesar de a colonoscopia ser recomendada tradicionalmente a partir dos 50 anos, várias sociedades médicas passaram a sugerir o rastreio a partir dos 45, mesmo na ausência de sintomas. O primeiro passo costuma ser a pesquisa de sangue oculto nas fezes; caso o resultado seja positivo, realiza-se a colonoscopia.

Agressividade explicada por biologia e atraso no diagnóstico

O presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Sérgio Araújo, sublinha que a maior agressividade observada em jovens pode resultar da combinação de dois factores: atraso no diagnóstico e características biológicas intrínsecas dos tumores. Entre os sinais de alerta estão alterações persistentes do trânsito intestinal, presença de sangue nas fezes, dores abdominais e modificação do calibre das dejeções.

A recidiva, salientam os especialistas, representa um desafio acrescido porque muitas vezes indica um comportamento tumoral mais dinâmico e resistente aos tratamentos convencionais.

Rastreio e prevenção ganham urgência

A recomendação atual prevê a pesquisa anual de sangue oculto ou, em alternativa, colonoscopia de cinco em cinco anos a partir dos 45 anos. Segundo Araújo, implementar esta estratégia no sistema público é complexo, mas viável e fundamental para detetar lesões em fases iniciais, quando o prognóstico é mais favorável.

O cancro colorrectal engloba tumores que se formam no cólon ou no recto e figura entre os mais frequentes no Brasil. O perfil silencioso nas fases iniciais reforça a necessidade de vigilância, sobretudo perante sintomas que possam ser erroneamente atribuídos a condições benignas, como hemorroidas. Para André Silva, “sempre que um paciente jovem apresenta sangramento retal, é prudente excluir primeiro a possibilidade de cancro”.

Metodologia do estudo

A equipa recolheu dados de doentes submetidos a cirurgia entre 2010 e 2020 no Hospital Universitário de Brasília. Todos foram seguidos durante, pelo menos, três anos para avaliar recorrência, sobrevivência global e características histológicas. A análise estatística permitiu comparar a agressividade tumoral entre os dois grupos etários e quantificar o risco de recidiva.

Embora o estudo não identifique uma causa única para a maior agressividade em adultos jovens, os autores destacam a prevalência de tumores indiferenciados como elemento associado a piores desfechos. Novas investigações poderão desvendar mecanismos biológicos específicos e orientar estratégias terapêuticas adaptadas a esta faixa etária.

Os resultados reforçam a importância de políticas de saúde que antecipem o rastreio do cancro colorrectal e promovam estilos de vida saudáveis, de modo a conter o avanço da doença entre adultos jovens.

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