O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, marcaram para a próxima sexta-feira, 15 de agosto, um encontro no Alasca com o objetivo de tratar do futuro do conflito na Ucrânia. A informação foi divulgada por Trump em rede social e confirmada posteriormente por um porta-voz do Kremlin, que classificou o local como “lógico” pela proximidade geográfica entre o estado norte-americano e o território russo.
Segundo o representante de Moscou, Putin convidou Trump para uma eventual segunda cúpula em território russo, mas não foram divulgados detalhes sobre data ou formato desse possível novo encontro. Até o momento, o governo da Ucrânia não comentou oficialmente a reunião agendada para a próxima semana.
A confirmação do encontro ocorreu poucas horas depois de Trump sugerir que Kiev poderia ter de ceder parte de seu território para encerrar a guerra iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022. Na Casa Branca, o presidente norte-americano afirmou que “muitos russos e muitos ucranianos morreram” e que a situação é “complexa”, mencionando a possibilidade de “algumas áreas serem resgatadas, outras trocadas, para benefício de ambos os lados”. Trump não apresentou detalhes adicionais sobre o formato de uma eventual redistribuição de terras.
De acordo com a emissora norte-americana CBS, que citou fontes próximas às negociações, a Casa Branca tenta convencer líderes europeus a aceitarem um acordo que permitiria à Rússia incorporar toda a região de Donbas, no leste da Ucrânia, e manter a Crimeia, anexada em 2014. Em contrapartida, Moscou cederia as regiões de Kherson e Zaporizhzhia, hoje parcialmente ocupadas. O Wall Street Journal relatou que Putin apresentou proposta semelhante ao enviado especial de Trump, Steve Witkoff, em reunião recente em Moscou.
A aceitação dessas condições é incerta. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rejeita pré-condições que envolvam concessões territoriais, e parceiros europeus mantêm posição pública de apoio à integridade territorial da Ucrânia. Um alto funcionário da Casa Branca declarou à CBS que a organização do encontro de 15 de agosto ainda pode mudar e que existe a possibilidade de Zelensky participar de alguma forma, embora não haja decisão definitiva.
Desde o início da invasão em grande escala, Moscou ocupa cerca de 20% do território ucraniano. Três rodadas de negociações diretas entre Ucrânia e Rússia em Istambul não produziram avanços, e as exigências russas — neutralidade ucraniana, redução drástica das Forças Armadas, abandono da aspiração de ingresso na Otan e suspensão das sanções ocidentais — são consideradas inaceitáveis por Kiev e seus aliados. Além disso, Moscou quer a retirada das tropas ucranianas de quatro regiões parcialmente controladas e a desmobilização do exército ucraniano.

Imagem: bbc.com
Apesar desse impasse, Trump declarou acreditar em uma “chance real” de acordo trilateral. “Os líderes europeus querem paz, o presidente Putin quer paz, e o presidente Zelensky quer paz”, afirmou a repórteres. Ele acrescentou que Zelensky “precisa de tudo o que for necessário” para se preparar para assinar um entendimento e que o líder ucraniano “trabalha duro” nesse sentido.
No mês passado, Trump reconheceu em entrevista que, após quatro visitas de Witkoff a Moscou, ficou desapontado porque expectativas iniciais de avanços não se concretizaram. Nas últimas semanas, o presidente norte-americano endureceu o discurso contra o Kremlin e estipulou um prazo até esta sexta-feira para que a Rússia aceitasse um cessar-fogo, sob pena de novas sanções. A aproximação da data, porém, foi ofuscada pelo anúncio da reunião presencial no Alasca, e a Casa Branca não divulgou medidas punitivas adicionais contra Moscou.
Trump e Putin mantiveram contato telefônico em fevereiro, no primeiro diálogo direto entre os dois chefes de Estado desde o início da invasão. A última vez que um presidente dos Estados Unidos se reuniu presencialmente com Putin foi em 2021, quando Joe Biden participou de cúpula em Genebra, na Suíça.
Com o encontro de Anchorage, capital do Alasca, confirmado para a próxima semana, diplomatas norte-americanos, russos e possivelmente ucranianos concentram esforços na tentativa de construir uma agenda que viabilize algum avanço em direção a um cessar-fogo ou a um acordo mais abrangente. Até lá, permanecem as dúvidas sobre a disposição das partes em aceitar concessões e sobre a reação de aliados europeus a qualquer proposta que envolva mudanças nas fronteiras reconhecidas da Ucrânia.