Empresários brasileiros levam proposta a Washington para reduzir tarifas e duplicar comércio com EUA

Empresários brasileiros levam proposta a Washington para reduzir tarifas e duplicar comércio com EUA

Uma missão empresarial brasileira desloca-se a Washington na próxima semana com o objetivo de aliviar as tarifas aplicadas aos produtos do Brasil e impulsionar o intercâmbio comercial entre os dois países.

Fórum reúne grandes grupos dos dois lados

A iniciativa é liderada pelo CEO Fórum Brasil-Estados Unidos, em conjunto com a Amcham e a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O lado brasileiro do Fórum inclui companhias como Stefanini, Embraer, Gerdau e Suzano. O grupo pretende apresentar aos congressistas norte-americanos uma agenda concreta de negociação de produtos, investimentos e temas regulatórios.

Marco Stefanini, fundador da multinacional de tecnologia Stefanini e co-chair do Fórum, afirma que a prioridade é “dobrar a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos em cinco anos”. A estratégia assenta em várias frentes, entre as quais minerais críticos, acordo de dupla tributação e cooperação na área de defesa.

Embora os serviços prestados pela Stefanini não estejam abrangidos pelas tarifas impostas pelo governo Trump, a empresa sente efeitos indiretos através dos clientes. Stefanini sublinha que “os negócios não gostam de turbulências”, referindo-se às incertezas geradas por pandemia, conflitos internacionais e, mais recentemente, pelo aumento tarifário.

Peso económico da delegação

O grupo apresentará exemplos de investimentos já realizados por empresas brasileiras nos Estados Unidos. Segundo Stefanini, seis companhias do Fórum geram atualmente 85 000 postos de trabalho em território norte-americano e planeiam investir mais 7 mil milhões de dólares nos próximos três anos. O argumento central é demonstrar que o reforço do comércio e dos investimentos é benéfico para ambas as economias.

A missão prevê reuniões no Congresso e com outras autoridades em Washington. O empresário brasileiro acredita que, depois da primeira fase de implementação das tarifas, existe espaço para diminuir o impacto sobre a restante pauta de produtos. Também recorda que a medida encarece bens consumidos pelos próprios norte-americanos, adicionando pressão política para uma revisão.

Expansão global e apetite por aquisições

Fundada há 37 anos, a Stefanini opera hoje em 46 países, atende clientes em 108 mercados e registou faturação de oito mil milhões de reais. A empresa não tem dívida e mantém um plano de investimentos inorgânicos: dispõe de dois mil milhões de reais até 2027 para aquisições, sobretudo nos Estados Unidos, Europa e América Latina. “Com menor liquidez global, a nossa solidez torna-nos mais competitivos em M&A”, refere Stefanini.

O executivo afirma que a prioridade é reforçar áreas onde a multinacional já actua, em vez de expandir geograficamente. No mercado brasileiro, onde a quota é mais elevada, o foco passa por consolidação e serviços de maior valor acrescentado.

Inteligência artificial como motor de crescimento

Além do comércio bilateral, a missão abordará oportunidades ligadas à inovação. A Stefanini trabalha com inteligência artificial (IA) há 15 anos e conduz mais de 300 projetos em sectores como mineração, siderurgia e banca. O CEO entende que a tecnologia trouxe “um impacto muito grande” e que combina ameaças com oportunidades. A empresa procura aquisições que acelerem a adoção de IA nos seus serviços, não necessariamente start-ups exclusivamente especializadas neste domínio.

Contexto de instabilidade global

Stefanini reconhece que o ambiente geopolítico permanece volátil, mas realça que a companhia está habituada a operar sob incerteza. Pandemia, conflitos armados e disputas comerciais criam pressões distintas consoante o sector e o país, refere o executivo. No entanto, a ausência de dívida e a diversificação internacional permitem mitigar riscos.

O dirigente defende ainda que o sucesso das negociações tarifárias exigirá envolvimento político de alto nível, tal como ocorreu em acordos recentes dos Estados Unidos com Reino Unido, Japão e União Europeia. Apesar de o Fórum actuar essencialmente na vertente económica, considera fundamental que os chefes de Estado participem nas etapas decisivas.

Próximos passos

Concluídas as reuniões em Washington, o Fórum vai compilar os resultados e definir um plano de acompanhamento. A expectativa é abrir caminho para um segundo ciclo de negociações, destinado a reduzir ou eliminar tarifas remanescentes e avançar em acordos pendentes, como o da dupla tributação.

Se os objetivos forem atingidos, o comércio bilateral poderá regressar a uma trajetória de crescimento robusto, contrariando o impacto das medidas protecionistas aplicadas nos últimos anos. Para as empresas brasileiras envolvidas, o desfecho positivo reforçaria investimentos já anunciados e sustentaria novos projectos nos Estados Unidos.

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