Eli Lilly divulga resultados promissores de comprimido para tratar obesidade
São Paulo – A farmacêutica Eli Lilly apresentou os dados principais do estudo de fase 3 ATTAIN-1, que avaliou a eficácia e a segurança da orforgliprona, novo agonista do receptor de GLP-1 em formulação oral voltado ao tratamento de obesidade ou sobrepeso. Os resultados indicam perda de peso significativa após 72 semanas de uso, com menor incidência de efeitos gastrointestinais em comparação a outras terapias da mesma classe.
Quem participou do estudo
Mais de 3 000 adultos com obesidade ou sobrepeso e pelo menos uma condição associada, mas sem diagnóstico de diabetes, integraram o ensaio clínico. Todos receberam orientações de alimentação equilibrada e prática regular de atividade física. Os participantes foram divididos em grupos que tomaram doses diárias de 36 mg, 12 mg ou 6 mg de orforgliprona, além de um grupo placebo.
Principais resultados de perda de peso
Após aproximadamente um ano e meio (72 semanas), a dose de 36 mg promoveu redução média de 12,4% do peso corporal, o que corresponde a cerca de 12,4 kg. No grupo placebo, a diminuição foi de 0,9%, cerca de 1 kg. Entre os que receberam 36 mg:
- 59,6% eliminaram mais de 10% do peso inicial.
- 39,6% perderam mais de 15% do peso inicial.
As doses menores também apresentaram desempenho expressivo. Com 12 mg, 45,1% dos voluntários reduziram acima de 10% do peso e 24% superaram 15%. Para 6 mg, os índices foram de 35,9% e 16,5%, respectivamente. No grupo placebo, apenas 8,6% registraram perda superior a 10%, e 3,6% ultrapassaram 15%.
Diferenças em relação a outras opções orais
A orforgliprona é um agonista do GLP-1 não peptídico, composto por pequena molécula sintética que resiste à degradação pelas enzimas digestivas. Por esse motivo, segundo especialistas, o medicamento não exige jejum prolongado ou cuidados específicos para absorção, ao contrário de formulações orais de semaglutida, que são peptídicas e suscetíveis à ação do estômago e do intestino.
Essa característica facilita o uso diário em comprimido, elimina a necessidade de injeções e pode ampliar a adesão de pacientes que não se adaptam a canetas aplicadoras. A simplificação também tende a reduzir custos de logística e armazenamento, já que não há insumos descartáveis nem exigência de cadeia fria para aplicação.
Perfil de segurança observado
O estudo registrou eventos adversos alinhados aos de outros agonistas de GLP-1, com menor frequência de náusea, constipação, diarreia, vômito e má digestão. Na maioria dos casos, os sintomas foram leves ou moderados e diminuíram com o tempo. Pesquisadores apontam essa tolerabilidade como vantagem adicional da molécula.
Efeitos metabólicos adicionais
Além do impacto na balança, a orforgliprona contribuiu para baixar colesterol LDL, triglicerídeos e pressão arterial sistólica, fatores de risco relevantes para doenças cardiovasculares. A combinação de perda de peso e melhora de marcadores cardiometabólicos reforça o potencial terapêutico do fármaco em populações com excesso de peso e múltiplas comorbidades.

Imagem: noticiasaominuto.com.br
Origem da molécula e próximos passos
A substância foi descoberta pela empresa japonesa Chugai e licenciada à Eli Lilly, que conduz pesquisas para uso em obesidade, diabetes tipo 2, apneia do sono e hipertensão associada ao excesso de peso. Embora os dados de fase 3 sejam considerados encorajadores pela companhia, a orforgliprona ainda não está disponível no mercado. O laboratório pretende submeter os resultados a autoridades regulatórias e, posteriormente, solicitar aprovação para comercialização.
Profissionais de endocrinologia ressaltam que o avanço amplia o leque de terapias contra obesidade, condição crônica e multifatorial que afeta milhões de pessoas. A chegada de um comprimido eficaz pode beneficiar indivíduos que não toleram injeções ou que interrompem tratamentos atuais por desconfortos gastrointestinais.
Enquanto a autorização não ocorre, os ensaios clínicos prosseguem para avaliar duração do efeito, segurança em prazos maiores e impacto em desfechos cardiovasculares. A expectativa dos pesquisadores é verificar se a redução de peso observada se mantém e se traduz em menor incidência de eventos como infarto, derrame e complicações metabólicas.
Ainda não há previsão de preço ou de inclusão em protocolos públicos de saúde. Contudo, especialistas apontam que a produção em forma de comprimido pode favorecer a fabricação em larga escala e, potencialmente, reduzir barreiras de acesso em comparação a biológicos injetáveis.
Os dados divulgados marcam mais um passo na evolução de tratamentos com agonistas de GLP-1, classe que se consolidou no manejo da obesidade e do diabetes tipo 2 nos últimos anos. A apresentação dos resultados completos em congressos científicos e publicações revisadas por pares deverá definir o ritmo de aprovação regulatória e a adoção clínica da orforgliprona.