Os dez piores acidentes nucleares já registrados

A Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES) classifica incidentes de 0 a 7. Desde a inauguração da primeira usina nuclear, em 1954, diversos episódios atingiram níveis iguais ou superiores a 4, considerados graves. A seguir, estão listados os dez casos mais severos, organizados por magnitude e impacto, com base nos dados disponíveis.

Chernobyl, Ucrânia – abril de 1986

Falhas de projeto no reator 4 da central de Chernobyl, combinadas a procedimentos incorretos de operação, provocaram uma explosão seguida de incêndio. A precipitação radioativa foi estimada em 400 vezes a das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Trinta e uma mortes ocorreram imediatamente; a ONU contabiliza ao menos 50 vítimas diretas e 300 mil deslocados. Estudos indicam milhares de óbitos posteriores, em grande parte por câncer de tireoide. Foi estabelecida uma zona de exclusão de 30 km, considerada inabitável por cerca de 20 mil anos.

Fukushima Daiichi, Japão – março de 2011

Um terremoto de magnitude 9,1 e o subsequente tsunami, com ondas superiores a 40 m, desativaram os sistemas de resfriamento de três reatores. O colapso do núcleo e as explosões de hidrogênio liberaram material radioativo. Duas mortes foram atribuídas diretamente ao acidente, e 160 mil pessoas deixaram a área. Avaliações posteriores apontaram ausência de efeitos imediatos da radiação na saúde humana. Na década seguinte, a descontaminação permitiu o retorno parcial dos moradores, mas 41 mil ainda permaneciam fora da região em 2020.

Kyshtym (Mayak), Rússia – setembro de 1957

Uma falha no sistema de resfriamento de um tanque de resíduos de plutônio gerou explosão equivalente a 100 toneladas de TNT. A nuvem de Césio-137 percorreu 350 km; cerca de 10 mil habitantes foram retirados sem receber explicações. O governo soviético admitiu o episódio apenas em 1989. O Instituto de Biofísica de Chelyabinsk estima mais de 8 mil mortes relacionadas. A área foi transformada em reserva natural, sem acesso público.

Windscale, Reino Unido – outubro de 1957

Superaquecimento em um reator destinado à produção de material bélico resultou em incêndio de vários dias. Iodo-131, Césio-137 e Polônio-210 foram lançados na atmosfera. O governo suspendeu a venda de leite num raio de 500 km e monitorou impactos na fauna. Estudos apontam mais de 200 mortes por câncer nas proximidades. Embora descontaminada, a região segue sob vigilância ambiental.

Three Mile Island, Estados Unidos – março de 1979

Na Pensilvânia, uma válvula defeituosa provocou perda de água de resfriamento e elevação da temperatura do reator a 2.070 °C, liberando gás radioativo. Autoridades recomendaram a saída de mulheres e crianças em um raio de 8 km, o que levou 140 mil pessoas a abandonar a área. Não houve mortes, mas quatro trabalhadores receberam doses elevadas de radiação. O caso influenciou fortemente o debate público sobre energia nuclear no país.

Chalk River, Canadá – dezembro de 1952

O reator experimental NRX sofreu falha de desligamento e decisões operacionais inadequadas, duplicando sua potência e causando explosões de hidrogênio. Houve vazamento de combustível, exigindo ampla limpeza. Mais de mil pessoas participaram dos trabalhos, concluídos em dois anos. Não foram registradas mortes, mas o episódio marcou a história nuclear canadense.

Os dez piores acidentes nucleares já registrados - Imagem do artigo original

Imagem: Serkant Hekimci via olhardigital.com.br

Bohunice, Tchecoslováquia – fevereiro de 1977

Durante troca de combustível na usina de Jaslovské Bohunice, a retirada incorreta de hastes de resfriamento levou ao vazamento de gases radioativos. O governo não divulgou dados sobre vítimas ou extensão do dano, e informações precisas permanecem escassas.

SL-1, Estados Unidos – janeiro de 1961

No estado de Idaho, uma haste de controle operada manualmente subiu além do limite, desencadeando explosão de vapor. Três técnicos morreram instantaneamente. A contaminação foi contida dentro da instalação, sem impactos fora do perímetro militar.

Saint-Laurent, França – 1969 e 1980

No complexo à beira do rio Loire ocorreram dois eventos de nível 4. Em 1969, um erro durante reabastecimento fundiu 50 kg de urânio no reator UNGG; 47 kg foram recuperados após um ano de descontaminação, sem registros de mortes. Em 1980, superaquecimento no reator A-2 derreteu 20 kg de combustível. A limpeza durou 29 meses e mobilizou mais de 500 especialistas. As autoridades informaram ausência de danos ambientais relevantes.

Tokaimura, Japão – setembro de 1999

Em uma planta de processamento de combustível, operadores excederam o limite de 2,4 kg de urânio no tanque de precipitação, ultrapassando a massa crítica e iniciando reação em cadeia. Dois trabalhadores morreram; outros 56 ficaram expostos. Cerca de 310 mil moradores dentro de 10 km foram instruídos a permanecer em casa até a estabilização. O governo determinou a automação completa dessas instalações e encerrou as atividades da unidade.

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