Criar um disquete funcional do zero: youtuber recria mídia dos anos 1970 e destaca uso atual
Um disquete totalmente novo, produzido fora das antigas linhas industriais e montado manualmente, mostrou que a clássica mídia magnética dos anos 1970 ainda pode ser fabricada e utilizada em 2024. O responsável pelo projeto é o youtuber Polymatt, que decidiu reconstruir cada elemento do dispositivo — do disco flexível ao gabinete protetor — para verificar se o suporte conseguiria armazenar dados.
Para desenvolver as peças, o criador recorreu aos softwares Shapr3D e MakeraCAM, que permitiram gerar modelos digitais precisos. Os componentes mecânicos foram usinados em alumínio com uma máquina CNC Carvera Air. Já o disco interno, parte mais delicada do processo, foi obtido ao cortar um pedaço de filme PET com laser. Em seguida, a superfície recebeu um revestimento de suspensão de pó de óxido de ferro, material responsável por registrar informações magnéticas. Depois de magnetizar o disco e encaixar todas as partes, Polymatt comprovou que o disquete aceita gravações simples.
O experimento resgata uma tecnologia anunciada pela IBM em 1971. Baseado em pesquisa da época, o primeiro modelo podia guardar 80 kilobytes. Com sucessivos aprimoramentos, o formato de 3,5 polegadas, lançado nos anos 1980, passou a comportar 1,44 megabyte e dominou o mercado de armazenamento doméstico até o fim da década de 1990. A popularização de CDs, DVDs, pen drives e unidades externas acabou reduzindo a presença dos disquetes, cujo último lote industrial foi produzido pela Sony em 2011.
Apesar de obsoletos para a maioria dos usuários, esses discos continuam presentes em ambientes que dependem de equipamentos antigos. De acordo com reportagem da BBC, alguns Boeing 747 ainda atualizam sistemas de navegação com disquetes. O metrô de São Francisco mantém o suporte no Sistema de Controle de Trens (ATCS) enquanto desenvolve uma substituição. Em 2019, o governo dos Estados Unidos utilizava discos de 8 polegadas para gerenciar o lançamento de mísseis nucleares. Mais recentemente, tanto a administração pública do Japão quanto a Marinha alemã deixaram de empregar a mídia apenas em 2024.
O mercado que sustenta essa demanda é abastecido principalmente por empresas especializadas em recondicionamento. A Floppydisk.com, sediada na Califórnia, comercializa unidades novas e recicladas a partir de US$ 0,60 — aproximadamente R$ 2,60 — e envia para clientes em vários países. Segundo a companhia, cerca de metade dos compradores são organizações que ainda utilizam equipamentos dependentes do formato.
Segmentos de entretenimento também aproveitam a sobrevida dos disquetes. Comunidades dedicadas a jogos clássicos lançam títulos em mídia magnética para computadores vintage, prática que mantém ativa uma cadeia de colecionadores e entusiastas. O resgate de um disquete da Nintendo com dados de desenvolvimento do jogo “Earthbound”, divulgado recentemente pelo Video Game History Foundation, ilustra o valor histórico atribuído a esses objetos.

Imagem: DestinaDesign via olhardigital.com.br
O projeto de Polymatt evidencia os passos necessários para recriar a mídia. A fabricação do gabinete em alumínio exigiu cortes milimétricos para acomodar o disco flexível, enquanto a moldagem de partes móveis, como a janela deslizante de proteção, demandou tolerâncias rigorosas. Já o revestimento com óxido de ferro teve de atingir espessura uniforme para que o cabeçote de leitura gravasse e recuperasse bits de forma confiável.
Do ponto de vista técnico, a capacidade alcançada no protótipo é modesta se comparada a padrões atuais: um cartão de memória simples armazena milhares de vezes mais informações. Ainda assim, o resultado comprova que tecnologias consideradas extintas podem ser reproduzidas sem acesso a fábricas especializadas, desde que haja ferramentas de prototipagem digital, matéria-prima adequada e conhecimento de processos magneto-ópticos.
O contexto em que o experimento foi divulgado reforça debates sobre a obsolescência de sistemas críticos. Organizações que dependem de plataformas legadas avaliam custos, riscos e prazos para migrar dados a suportes contemporâneos. Enquanto a transição não ocorre, a existência de iniciativas semelhantes à de Polymatt e de fornecedores como a Floppydisk.com garante, ainda que de forma limitada, o abastecimento de peças e a continuidade operacional de equipamentos projetados há várias décadas.
A demonstração de que um disquete pode ser fabricado novamente, meio século após seu lançamento comercial, indica que a tecnologia permanece acessível para quem necessita do formato, seja por motivos operacionais, históricos ou de pesquisa.