CVC avança em receita e Ebitda, corta dívida, mas juros elevados mantêm prejuízo
A CVC Corp terminou o segundo trimestre com crescimento nas principais linhas operacionais, impulsionada pelo segmento B2B e pela operação na Argentina. A receita líquida somou R$ 281,4 milhões, alta de 16% em relação ao mesmo período de 2023, enquanto o Ebitda ajustado avançou 31,3%, para R$ 92,3 milhões. Apesar da melhora, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 15,9 milhões, superior à perda de R$ 4,8 milhões apurada um ano antes, refletindo principalmente o peso das despesas financeiras.
O esforço para reduzir o endividamento surtiu efeito parcial. Ao fim de junho, a dívida bruta, incluindo antecipação de recebíveis, totalizava R$ 984 milhões, queda de R$ 118 milhões na comparação trimestral. Parte desse passivo é remunerada a CDI mais 4,5 pontos percentuais, ao passo que uma parcela relevante das antecipações de receita carrega custo de 17% ao ano. O patamar elevado da Selic, que influencia diretamente o CDI, limitou o avanço verificado entre o Ebitda e o resultado final.
No Brasil, mais de 90% das vendas de pacotes turísticos da companhia são financiadas. Com tíquete médio entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, a procura tende a recuar em ambientes de crédito caro, o que afetou especialmente o negócio voltado ao consumidor final (B2C). Já o braço corporativo e de intermediação para agências (B2B) sustentou a expansão da receita doméstica, apoiado em investimentos em tecnologia de distribuição de hotéis e passagens aéreas. A empresa reporta ganho de participação tanto no mercado interno quanto em rotas internacionais.
Uma das frentes de crescimento no B2B tem sido a diversificação geográfica da carteira de clientes. Além de servir agências independentes dentro do País, a CVC passou a distribuir conteúdo globalmente, incluindo hotelaria e bilhetes aéreos. Atualmente, o maior comprador da Rextur Advance, controlada do grupo, é um cliente chinês, sinalizando a relevância dos parceiros internacionais para a estratégia de expansão.
No segmento voltado ao consumidor, fatores específicos pressionaram a demanda ao longo do trimestre. O conflito no Oriente Médio reduziu o fluxo de turismo religioso, enquanto incertezas sobre vistos norte-americanos e a diminuição de 30% na capacidade de cruzeiros no litoral brasileiro, após a saída de três navios, também pesaram. A companhia estuda voltar a fretar embarcações no futuro para suprir a lacuna gerada pelos armadores, que encontraram condições mais favoráveis em destinos como Caribe, onde os custos portuários são menores e a receita obtida em moeda estrangeira é mais alta.
Na Argentina, o desempenho foi positivo tanto no varejo quanto no segmento B2B. O Ebitda na operação local atingiu R$ 13,4 milhões, alta de 41,2% ante igual intervalo de 2023. O ambiente competitivo fragmentado permitiu avanço de participação, apoiado pela continuidade do plano de expansão de lojas. Foram nove inaugurações no trimestre, totalizando 172 unidades franqueadas no país vizinho. No Brasil, o número de lojas chegou a 1.338, com a abertura de 41 pontos entre abril e junho.

Imagem: neofeed.com.br
A rede física adotou formato mais enxuto, articulado ao canal digital, estratégia classificada pela empresa como “figital”. A geração diária de 30 mil a 40 mil leads por plataformas da Meta, como WhatsApp e Instagram, abastece os franqueados, reduzindo a dependência de visitas presenciais. O investimento necessário para abrir uma loja foi reduzido de cerca de R$ 350 mil para perto de R$ 50 mil, o que tem facilitado a expansão. Há casos em que o valor de aluguel é inferior a R$ 1 mil e 70% das vendas ocorrem pela integração entre canais on-line e off-line.
A companhia acredita que o modelo híbrido tende a se manter relevante, principalmente em viagens complexas, que exigem consultoria. Enquanto a compra de bilhetes aéreos de última hora é resolvida digitalmente, pacotes de férias familiares costumam demandar apoio presencial. O grupo tem como referência empresas asiáticas que combinam grande base de lojas com forte oferta digital.
Os esforços para melhorar a estrutura de capital continuam. A administração tem priorizado a geração de caixa operacional para quitar dívidas mais onerosas e renegociar condições nas antecipações de recebíveis. A meta é reduzir gradualmente o impacto dos juros na demonstração de resultados, processo que depende de avanços nas negociações com instituições financeiras e da trajetória da taxa Selic.
Na bolsa, as ações da CVC acumulam valorização de 66,6% em 2024. O último pregão anterior à divulgação dos números fechou com os papéis cotados a R$ 2,30, conferindo valor de mercado de R$ 1,21 bilhão.