Gaza City – Cinco profissionais da Al Jazeera foram mortos no domingo (16) após um bombardeio israelense atingir uma tenda de imprensa instalada junto ao portão principal do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza. O repórter Anas al-Sharif, o correspondente Mohammed Qreiqeh e os cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa estavam no local quando o projétil atingiu a estrutura, segundo informações da própria emissora.
No total, sete pessoas morreram no ataque, de acordo com a Al Jazeera. Inicialmente, a rede confirmou quatro integrantes de sua equipe entre as vítimas, mas atualizou o número para cinco após a identificação de todos os corpos.
Alvo declarado pelas Forças de Defesa de Israel
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) admitiram ter mirado especificamente Al-Sharif. O exército alegou que o jornalista, de 28 anos, chefiava uma célula armada do Hamas, participava de lançamentos de foguetes contra civis israelenses e integrava a organização desde 2019. Documentos que comprovariam essas acusações não foram apresentados publicamente.
Entidades de defesa da liberdade de imprensa repudiaram o ataque. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificou o bombardeio como mais um episódio de violência contra profissionais de mídia em Gaza e afirmou que Israel não forneceu provas que sustentem as acusações.
Alertas anteriores sobre riscos
Em fevereiro, a própria Al Jazeera, o CPJ e uma relatoria especial da ONU haviam solicitado proteção para Al-Sharif, citando ameaças explícitas à sua segurança. Em julho do ano passado, um porta-voz militar israelense divulgou nas redes sociais um vídeo em que apontava o repórter como membro das brigadas militares do Hamas, declaração considerada infundada pela relatoria das Nações Unidas para a liberdade de expressão.
Momentos antes de morrer, Al-Sharif publicou alertas em uma rede social sobre a intensificação dos bombardeios em Gaza City. Uma mensagem programada, publicada por um colega depois de sua morte, descrevia a escalada dos ataques na região.
Repetição de episódios fatais
Desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023, pelo menos 186 jornalistas foram mortos, segundo levantamento do CPJ. A própria Al Jazeera já perdera outros membros da equipe em circunstâncias semelhantes. Em agosto do ano passado, o repórter Ismael Al-Ghoul foi atingido enquanto estava dentro de um carro; o cinegrafista Rami al-Rifi e um adolescente que passava de bicicleta também morreram. Na ocasião, o exército israelense atribuiu a Al-Ghoul participação direta nos ataques de 7 de outubro, acusação refutada pela emissora.

Imagem: bbc.com
Restrição a cobertura internacional
Por decisão das autoridades israelenses, repórteres estrangeiros continuam impedidos de circular livremente na Faixa de Gaza. Dessa forma, veículos internacionais dependem quase exclusivamente de profissionais locais para informar sobre a situação no território.
Organizações de mídia, entre elas BBC, Reuters, AP e AFP, divulgaram recentemente nota conjunta expressando “preocupação desesperada” com a segurança e as condições de trabalho dos freelancers que permanecem na região. Alguns relataram passar dias sem alimentação adequada; um chegou a desmaiar durante uma gravação.
Crise humanitária
Mais de 100 entidades humanitárias alertam para risco de fome em massa em Gaza. A entrada de suprimentos é controlada por Israel, que acusa parte das organizações de propagar interesses do Hamas. As dificuldades de abastecimento se somam à ameaça constante de ataques aéreos e dificultam a permanência de jornalistas no território.
Contexto do conflito
A ofensiva israelense foi deflagrada após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos em Israel e resultou no sequestro de 251 pessoas. Desde então, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas em Gaza afirma que mais de 61 mil palestinos perderam a vida em decorrência das operações militares israelenses.
A morte dos cinco profissionais da Al Jazeera agrava as preocupações quanto à liberdade de imprensa em zonas de conflito e reforça o debate sobre a proteção de repórteres em áreas sob bombardeio. Enquanto as IDF sustentam que alguns jornalistas atuam como combatentes, organizações internacionais exigem investigações independentes e transparência sobre os critérios adotados nos ataques que vitimam trabalhadores da mídia.