Câmara dos EUA intima Bill e Hillary Clinton em investigação sobre Jeffrey Epstein
O Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos emitiu intimações para o ex-presidente Bill Clinton, para a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e para outras oito autoridades que ocuparam cargos de alto escalão no Departamento de Justiça e no Federal Bureau of Investigation (FBI). As ordens judiciais, assinadas na terça-feira (13) pelo presidente do colegiado, o republicano James Comer, fazem parte da investigação parlamentar sobre a forma como o governo federal tratou os processos ligados ao financista Jeffrey Epstein, morto em 2019.
Quem foi convocado
Além dos Clinton, receberam intimações os ex-procuradores-gerais Merrick Garland, Loretta Lynch, Eric Holder, Alberto Gonzales, Jeff Sessions e William Barr, que comandaram o Departamento de Justiça em diferentes administrações, de George W. Bush a Joe Biden. Também foram convocados os ex-diretores do FBI James Comey e Robert Mueller. O próprio Departamento de Justiça recebeu ordem para entregar todos os documentos e comunicações relacionados a Epstein e à sua ex-associada Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por tráfico sexual.
Objetivo da investigação
No ofício encaminhado a cada intimado, Comer afirmou que o comitê deve supervisionar o cumprimento das leis federais de combate ao tráfico sexual e, especificamente, examinar a condução das investigações e processos contra Epstein e Maxwell. Entre os itens solicitados estão registros sobre possíveis crimes de tráfico humano, exploração de menores e abuso sexual, bem como arquivos dos casos criminais abertos em Nova York e na Flórida e o acordo de não acusação firmado com Epstein em 2007.
Contexto político
A ação do comitê ocorre após o governo Donald Trump, ainda em 2020, ter decidido não liberar integralmente arquivos federais envolvendo Epstein. A escolha provocou insatisfação em parte da base conservadora do ex-presidente e também entre alguns democratas, que acreditam na existência de uma suposta “lista de clientes” de figuras públicas relacionadas ao financista. Com a pressão crescente, o colegiado bipartidário aprovou a emissão das intimações e determinou que os depoimentos comecem ainda em agosto, estendendo-se até o outono norte-americano. A audiência com Bill Clinton está marcada para 14 de outubro.
Relação dos Clinton com Epstein
Críticos do ex-chefe do Executivo e da ex-candidata presidencial citam viagens e encontros registrados no início dos anos 2000. De acordo com porta-voz citado em correspondências anexadas às intimações, Bill Clinton realizou quatro viagens com equipe a bordo do avião privado de Epstein entre 2002 e 2003 e encontrou o financista em Nova York em 2002, inclusive visitando seu apartamento na mesma cidade. Em 2019, o escritório do ex-presidente declarou que ele “não tinha conhecimento dos crimes” pelos quais Epstein foi investigado.
Episódios recentes do caso
O extenso processo envolvendo Epstein começou a ganhar repercussão em meados da década de 2000, quando autoridades estaduais da Flórida e o FBI investigaram denúncias de abuso sexual. Em julho de 2019, promotores federais o acusaram de tráfico sexual de menores; ele foi preso e, em agosto do mesmo ano, morreu por suicídio em uma prisão de Nova York, segundo laudo oficial. A morte levantou questionamentos sobre a custódia e alimentou teorias sobre a existência de material comprometedor contra personalidades influentes.
Neste ano, a procuradora-geral Pam Bondi anunciou que uma revisão do Departamento de Justiça não encontrou indícios de lista de clientes e confirmou a conclusão de suicídio de Epstein, informando que não seriam divulgados novos arquivos. A declaração gerou novas críticas de apoiadores de Trump, que, durante a campanha de 2020, prometeu liberar toda a documentação.

Imagem: bbc.com
Consequências dentro do Congresso
O debate interno entre republicanos na Câmara sobre a divulgação dos registros ficou tão acalorado que, em julho, o presidente da Casa, Mike Johnson, encerrou os trabalhos legislativos mais cedo para evitar a votação de uma resolução que determinaria a liberação imediata dos documentos. A disputa persiste, e a investigação do Comitê de Supervisão tornou-se o principal veículo para obtenção das informações.
Ghislaine Maxwell e outros desdobramentos
Advogados de Ghislaine Maxwell indicaram que a ré estaria disposta a prestar depoimento ao comitê se recebesse garantias legais específicas. A oitiva, marcada inicialmente para 11 de agosto, foi adiada sem nova data. Paralelamente, o Departamento de Justiça tenta liberar transcrições do grande júri que embasou o processo contra ela; a defesa se opõe à divulgação.
Ex-presidentes e convocações
Nos últimos dois séculos, apenas quatro ex-presidentes norte-americanos foram intimados por comissões do Congresso, e somente dois prestaram depoimento. A inclusão de Bill Clinton nesse seleto grupo ressalta a excepcionalidade da decisão. Embora não haja clareza sobre a disposição dos convocados em comparecer, os parlamentares podem decidir se as audiências ocorrerão em público ou a portas fechadas.
Até o momento, nem o Departamento de Justiça nem os escritórios dos Clinton responderam se pretendem atender às intimações. A Casa Branca foi consultada pelo comitê, mas ainda não se manifestou.