Banco Central trava compra do Banco Master e aumenta pressão por intervenção
O Banco Central (BC) rejeitou a operação que previa a entrada do Banco de Brasília (BRB) no capital do Banco Master, eliminando, para já, a solução de mercado que vinha sendo apontada como forma de estabilizar a instituição de Daniel Vorcaro.
Decisão corta acordo de 2 mil milhões de reais
Em facto relevante, o BRB informou que a autoridade monetária indeferiu a aquisição de 49 % das ações ordinárias e 100 % das preferenciais do Master, avaliada em 2 mil milhões de reais. O banco público limitou-se a indicar que solicitou acesso integral ao despacho para analisar os fundamentos e «avaliar as alternativas cabíveis». O Master, por seu lado, aguarda igualmente a publicação da decisão para definir próximos passos, sublinhando que mantém confiança no seu plano de negócios.
O negócio, anunciado em março, já passara por vários ajustes para responder a reservas do regulador. Em agosto, o BRB reduziu o perímetro da transação, excluindo cerca de 51,2 mil milhões de reais em ativos e passivos e fixando o valor da operação em 24 mil milhões de reais. Mesmo com o corte, fontes internas do BC entendiam que a proposta não resolvia o principal foco de risco: a sucessão de Certificados de Depósito Bancário (CDB) emitidos pelo Master com remuneração superior à média do mercado.
Resistência dentro do regulador
A condução do processo coube à diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, liderada por Renato Gomes. De acordo com relatos citados pela imprensa brasileira, o executivo mostrou-se reticente desde o início e recomendou o indeferimento. Paralelamente, deputados do chamado Centrão aceleraram a tramitação de um projeto que autoriza o Congresso a demitir diretores do BC, movimento interpretado como tentativa de pressionar o regulador a aprovar o acordo.
Antes da decisão negativa, a operação já contava com parecer favorável do Conselho Administrativo de Defesa Económica (Cade) e com aprovação da Câmara Legislativa do Distrito Federal, uma vez que o BRB é controlado pelo governo local.
Riscos operacionais permanecem
Fundado em 2013, o Banco Master ganhou dimensão nos últimos anos através de aquisições e compra de precatórios, além de operações de fusões e aquisições de ativos em dificuldades. O crescimento esteve sustentado numa política agressiva de captação, oferecendo taxas superiores às praticadas por concorrentes em emissões de CDB.
Com o veto do BC, o Master fica sem o reforço de capital e sem a liquidez adicional que a entrada do BRB proporcionaria. Em julho, a jornalista Malu Gaspar noticiou que diretores da autoridade monetária chegaram a rascunhar uma intervenção na instituição, hipótese que volta a ganhar força caso não surja rapidamente uma alternativa.

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Próximos passos
O calendário agora depende da divulgação integral do despacho e das eventuais medidas que o Master apresente para enfrentar as suas obrigações. Entre as possibilidades estão a submissão de uma nova proposta de venda, a busca por um investidor com perfil diferente ou a adoção de um plano de saneamento determinado pelo próprio regulador.
Enquanto isso, correntistas e detentores de CDB acompanham com atenção a situação de liquidez do banco. Analistas recordam que a intervenção é o instrumento ao dispor do BC quando identifica risco relevante para depositantes ou para o sistema financeiro.
Impacto para o BRB
Para o Banco de Brasília, o indeferimento representa o adiamento de uma estratégia que visava ganhar escala nacional e diversificar receitas. A instituição também espera o acesso ao parecer para decidir se recorre ou se abandona o projeto, reduzindo o impacto nos seus rácios prudenciais.
A recusa do regulador mantém, assim, o Banco Master sob escrutínio e coloca a tónica na necessidade de soluções rápidas que afastem um cenário de intervenção, opção já discutida nos bastidores do BC.