Avanço chinês em IA, robótica e energia limpa domina debate de investidores e aponta parceria com Brasil

A crescente disputa tecnológica entre China e Estados Unidos ganhou destaque na 4ª Conferência Institucional da XP, realizada em um painel paralelo à Expert XP 2025. Investidores asiáticos apresentaram dados sobre o ritmo de expansão chinês em inteligência artificial (IA), robótica, veículos elétricos e fontes renováveis de energia, além de apontar oportunidades concretas para o Brasil nesse cenário.

O debate foi mediado pelo escritor e empresário Ricardo Geromel e contou com três gestores que atuam diretamente na Ásia: Ning Kang, diretor executivo da IDG Capital; Ron Cao, fundador da Sky9 Capital; e Aileen Chang, fundadora e diretora de investimentos da Tashi Capital Management. Todos destacaram a transformação industrial acelerada na China e avaliaram como empresas brasileiras podem integrar cadeias globais que se formam em torno de tecnologia e sustentabilidade.

Robótica industrial consolida liderança chinesa

Ning Kang apresentou números que ilustram a escala do processo de automação: mais da metade dos robôs industriais instalados anualmente no mundo encontra-se em fábricas chinesas. Segundo o executivo, essa predominância vem de uma infraestrutura logística madura, que permite alta produtividade com prazos curtos e controle de qualidade rígido. Ele acrescentou que linhas de montagem de automóveis ou baterias já operam quase sem intervenção humana, coordenadas por sistemas conectados à internet.

O uso de robôs, porém, não se limita ao ambiente fabril. De acordo com Ning, equipamentos domésticos autônomos — como aspiradores inteligentes, drones de entrega e impressoras 3D — vêm se popularizando rapidamente no mercado interno, ampliando a demanda por componentes e software especializados.

Veículos elétricos e híbridos ganham mercado global

O setor automotivo foi apontado como exemplo concreto de transformação. Mais de 50% dos carros vendidos na China já são elétricos ou híbridos, produzidos por um ecossistema que reúne mais de 100 fabricantes. Após conduzir um grupo de empresários brasileiros a centros de produção no país asiático, Ning afirmou que modelos chineses deverão chegar com força às ruas do Brasil.

Ron Cao reforçou essa avaliação ao descrever a estratégia da Roxx, montadora investida por sua gestora. A empresa desenvolve utilitários esportivos híbridos de alto desempenho voltados a regiões onde a infraestrutura para veículos totalmente elétricos ainda é limitada. Os modelos já registram vendas significativas no Meio-Oeste dos Estados Unidos e na Europa Ocidental, e a expectativa é ampliar presença em território brasileiro. O executivo explicou que a companhia pretende atuar como fornecedora de tecnologia, estabelecendo parcerias locais para distribuição e manutenção.

Super apps moldam comportamento do consumidor

Aileen Chang abordou o impacto de plataformas digitais, citando o WeChat, do grupo Tencent, como exemplo de integração de serviços. Na China, o super app concentra pagamentos, comércio eletrônico, mensagens e agendamento de serviços de saúde em um único ambiente. Tentativas de replicar esse modelo no Brasil esbarraram na dominância do WhatsApp, mas Chang considera a Tencent um investimento de longo prazo, sustentado por gestão eficiente e base de usuários fiel.

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Imagem: infomoney.com.br

Energia limpa impulsiona nova fase de crescimento

A transição energética ocupou parte relevante do painel. Questionado sobre a redução da poluição em grandes centros urbanos, Ning relatou que a China hoje responde por mais de 85% da produção mundial de painéis solares. O país estruturou toda a cadeia, do processamento de silício ao armazenamento em baterias e à fabricação de veículos elétricos.

O executivo destacou a convergência de interesses com o Brasil, cuja matriz já possui mais de 90% de geração a partir de fontes renováveis. Para ele, a virada ocorreu em 2019, quando a energia solar e a eólica ficaram, pela primeira vez, mais baratas que fontes convencionais, desencadeando aportes expressivos de capitais público e privado.

Nos próximos anos, afirmou Ning, empresas inovadoras em baterias, hidrogênio verde e outras tecnologias limpas devem consolidar posição global, e quem dominar esses segmentos poderá definir padrões de mercado. Além disso, a expansão da IA aumenta a urgência por geração sustentável: data centers podem passar a consumir volume de eletricidade equivalente ao de países inteiros, incluindo o Brasil.

Para os participantes, essa convergência entre demanda energética e avanço tecnológico reforça a necessidade de cooperação internacional. Cadeias produtivas integradas — que unam know-how chinês em manufatura, capacidade brasileira em geração renovável e capital global — foram citadas como caminho para acelerar inovações em vários setores, do transporte à computação em nuvem.

O painel encerrou com a avaliação de que a corrida por liderança em IA, robótica e energia limpa não se restringe a duas potências. Segundo os palestrantes, países capazes de aliar recursos naturais, mercado interno robusto e ambiente regulatório favorável, como o Brasil, tendem a ganhar protagonismo à medida que surgem novas demandas tecnológicas e ambientais no mundo inteiro.

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