Ataques aéreos russos contra a Ucrânia mais que dobram após posse de Trump, mostra análise

Ataques aéreos russos contra a Ucrânia mais que dobram após posse de Trump, mostra análise

Um levantamento feito a partir dos boletins diários da Força Aérea ucraniana indica que a quantidade de mísseis e drones lançados pela Rússia contra a Ucrânia mais que dobrou desde 20 de janeiro, data em que Donald Trump reassumiu a Presidência dos Estados Unidos. Entre 20 de janeiro e 19 de julho, foram registrados 27.158 artefatos disparados por Moscou, comparados a 11.614 nos seis meses finais do mandato de Joe Biden.

Os ataques já vinham em trajetória ascendente durante 2024, mas o ritmo acelerou após a vitória de Trump nas urnas, em novembro. Segundo a análise, o período janeiro-julho reúne os maiores volumes de ofensivas aéreas desde o início da invasão em grande escala, em fevereiro de 2022.

Promessas de cessar-fogo e pausas no envio de armas

Durante a campanha de 2024, Trump prometeu encerrar o conflito “em um dia” caso voltasse à Casa Branca e argumentou que a invasão poderia ter sido evitada se o Kremlin respeitasse o ocupante do Salão Oval. Após a posse, o governo buscou abrir diálogo com Moscou, suspendendo duas vezes — em março e em julho — entregas de munições antiaéreas e outros equipamentos destinados a Kiev. As interrupções, posteriormente revogadas, foram criticadas por parlamentares democratas e parte do estamento militar, que apontam impacto direto na capacidade de defesa ucraniana.

A vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, afirmou em nota que “a guerra foi provocada pela incompetência de Joe Biden” e que Trump busca deter o derramamento de sangue com a venda de armas norte-americanas a membros da Otan e ameaça de sanções adicionais a Moscou se não houver acordo de cessar-fogo.

Escalada após tentativas diplomáticas

Nas primeiras semanas da nova administração, declarações consideradas conciliatórias foram interpretadas como tentativa de atrair o presidente russo, Vladimir Putin, para uma negociação. Nesse intervalo, as ofensivas chegaram a diminuir em relação ao fim do governo Biden. O quadro mudou rapidamente depois de fevereiro, quando o secretário de Estado Marco Rubio se reuniu com o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Riade. Desde então, delegações de Ucrânia e Rússia participaram de rodadas mediadas na Turquia, mas sem impacto visível sobre o número de lançamentos.

O pico foi alcançado em 9 de julho, com 748 projéteis disparados em 24 horas. Relatos locais indicam ao menos dois mortos e mais de uma dezena de feridos nessa ofensiva. Dois meses antes, em 25 de maio, um ataque até então recorde levou Trump a questionar publicamente a atitude de Putin; desde então, volumes superiores ao daquele dia foram registrados em outras 14 ocasiões.

Produção bélica russa em alta

Informações da inteligência militar ucraniana apontam que, no último ano, a produção de mísseis balísticos na Rússia cresceu 66%. Atualmente, o país fabrica cerca de 85 unidades por mês, ante 44 em abril de 2024. No campo dos drones, a expansão é ainda mais expressiva: estima-se a produção de 170 unidades do modelo Geran-2 por dia em uma planta industrial em Alabuga, no sul da Rússia. Imagens de satélite mostram ampliação de galpões e dormitórios no complexo, que a direção da instalação descreve como “a maior fábrica de drones de combate do mundo”.

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Imagem: bbc.com

Para analistas, o aumento de estoques russos, somado à redução temporária do fornecimento norte-americano de mísseis interceptores, encorajou o Kremlin a intensificar a campanha aérea. Justin Bronk, do Royal United Services Institute (RUSI), ressalta que a menor oferta de sistemas de defesa, especialmente dos interceptadores Patriot, deixou a Ucrânia mais vulnerável a mísseis de cruzeiro, drones “kamikaze” e projéteis balísticos.

Pressão por mais baterias Patriot

Diante da escalada, vozes no Congresso dos EUA pedem o envio de novas baterias Patriot, principal sistema antiaéreo em operação na Ucrânia. Cada bateria custa cerca de US$ 1 bilhão, enquanto cada míssil de interceptação chega a US$ 4 milhões. O governo Trump reverteu as duas suspensões de assistência militar e autorizou a venda de armamentos a aliados da Otan, que por sua vez transfeririam parte do material a Kiev. A expectativa é que o acordo inclua unidades adicionais do Patriot.

Impacto cotidiano na Ucrânia

Para a população ucraniana, o volume crescente de artefatos que ultrapassam as defesas tornou as explosões frequentes em Kiev e outras cidades. Moradores relatam noites marcadas por alertas de ataque e incerteza sobre o despertar seguinte. Segundo a jornalista Dasha Volk, o desgaste psicológico se soma ao cansaço coletivo pelo prolongamento da guerra.

Senador sênior do Comitê de Relações Exteriores, o democrata Chris Coons sustenta que a postura oscilante de Washington pode ter convencido o Kremlin de que pode intensificar as ofensivas e “tentar vencer pelo desgaste”. Para ele, será necessário aumentar, e não reduzir, a assistência de segurança para obrigar Moscou a negociar em termos aceitáveis para Kiev.

Com o prazo de 8 de agosto estipulado por Trump para que a Rússia aceite um acordo de paz, diplomatas, militares e analistas acompanham os próximos movimentos do Kremlin. Até o momento, contudo, os dados de lançamentos mostram que a pressão pública do presidente norte-americano não se refletiu em redução dos ataques.

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