Astrônomos propõem redirecionar a sonda Juno para investigar o cometa interestelar 3I/ATLAS
Um estudo liderado pelo astrônomo Abraham Avi Loeb, da Universidade de Harvard, apresenta um plano para que a sonda Juno, atualmente em órbita de Júpiter, seja desviada e realize um sobrevoo no cometa interestelar 3I/ATLAS. O artigo, disponibilizado no servidor de pré-impressão arXiv e ainda sem revisão por pares, descreve a manobra necessária, o cronograma sugerido e os instrumentos que poderiam coletar dados inéditos desse visitante extrassolar.
O cometa 3I/ATLAS foi identificado no início do mês passado enquanto percorria o Sistema Solar a quase o dobro da velocidade registrada nos visitantes anteriores Oumuamua (2019) e Borisov (2017). As estimativas indicam um núcleo rochoso de aproximadamente 5,6 quilômetros de diâmetro, totalizando cerca de 11,2 quilômetros de comprimento. Modelagens preliminares sugerem que o objeto pode ter se originado no disco espesso da Via Láctea, tornando-o potencialmente mais antigo que o próprio Sistema Solar.
Segundo o estudo, o momento mais favorável para observações seria o periélio, quando o corpo atinge a menor distância do Sol. Contudo, durante essa etapa o cometa passará no lado oposto ao da Terra, o que dificulta o acompanhamento por telescópios terrestres devido ao ofuscamento pela luz solar. Para compensar essa limitação, Loeb e os coautores britânicos Adam Hibberd e Adam Crowl propõem o redirecionamento da Juno a fim de interceptar o 3I/ATLAS nas proximidades de Júpiter.
O plano baseia-se em uma Manobra de Oberth, técnica que aproveita a gravidade de um planeta para aumentar a velocidade de uma espaçonave e reduzir o consumo de combustível. Os cálculos indicam que um impulso aplicado em 9 de setembro permitiria à Juno abandonar sua órbita ao redor de Júpiter. Com a trajetória ajustada, a nave encontraria o cometa em 14 de março de 2026, realizando um sobrevoo suficientemente próximo para coletar dados detalhados.
Entre os instrumentos disponíveis na sonda estão espectrômetros, magnetômetros, detectores de partículas, sensores de ondas e câmeras de alta resolução. Esses equipamentos poderiam caracterizar a composição química do cometa, medir seu campo magnético, analisar partículas emitidas por sua coma e registrar imagens de alta definição do núcleo. Tais medições são consideradas valiosas porque nenhum cometa interestelar foi estudado tão de perto até hoje.
Apesar do interesse científico, a proposta enfrenta obstáculos operacionais e financeiros. A agência espacial norte-americana sofre cortes no orçamento e planeja concluir a missão Juno no próximo mês, quando a nave atingirá o fim de sua vida útil projetada. O redirecionamento exigiria extensão de contrato, análise de riscos e alocação de recursos em meio a outras prioridades, como programas em Marte. Além disso, a trajetória exata do 3I/ATLAS permanece em refinamento, o que adiciona incerteza ao cronograma apresentado.

Imagem: Darryl Seligman et al. via olhardigital.com.br
Avi Loeb tornou-se figura conhecida por defender hipóteses não convencionais. Entre elas estão a utilização de um ímã de grande porte para proteger a Terra de erupções solares, a possibilidade de restos de tecnologia alienígena nos oceanos e a sugestão de que o Universo poderia ter sido criado em laboratório. No contexto do 3I/ATLAS, ele também publicou um artigo de caráter mais especulativo no qual considera que o objeto poderia ser um artefato alienígena potencialmente hostil, hipótese que relembra a proposta feita anteriormente para o asteroide Oumuamua.
Nesse texto paralelo, Loeb menciona o conceito da “Floresta Negra”, teoria que descreve civilizações avançadas atacando outras formas de vida de maneira preventiva. Ele observa que o cometa passará fora do campo de visão direto da Terra durante o periélio, situação que, segundo a hipótese, poderia favorecer manobras não detectadas. O próprio autor reconhece que se trata de um exercício especulativo, mas a afirmação gera críticas de colegas que consideram o argumento distante das evidências disponíveis.
Independentemente da controvérsia, a possibilidade de observar um cometa interestelar de perto desperta atenção na comunidade científica. Até o momento, dados de Oumuamua e Borisov foram obtidos apenas por telescópios ou missões de curta duração, sem a oportunidade de um acompanhamento in loco. A interceptação de 3I/ATLAS, ainda que complexa, ofereceria uma janela singular para investigar a composição e a dinâmica de objetos formados fora do Sistema Solar.
Sem decisão oficial, a proposta permanece como estudo conceitual. A concretização dependerá de revisão técnica, disponibilidade de recursos e avaliação de riscos pela agência. Caso não seja aprovada, as observações do cometa deverão se limitar a telescópios terrestres e espaciais autorizados a operar durante o período de maior aproximação, ainda sujeito à interferência solar.