Empresas dos EUA travam agenda verde: assembleias de 2025 não aprovam qualquer proposta ambiental

Empresas dos EUA travam agenda verde: assembleias de 2025 não aprovam qualquer proposta ambiental

Pela primeira vez em seis anos, as assembleias anuais de accionistas das maiores cotadas dos Estados Unidos terminaram sem aprovar uma única resolução ambiental. A informação consta de um relatório conjunto do Conference Board e da Esgauge, que analisou as votações realizadas até ao fim do primeiro semestre no universo Russell 3000.

Quebra histórica no apoio à sustentabilidade

O indicador contrasta com o pico registado em 2022, quando 14 propostas “verdes” obtiveram luz verde dos investidores. Em 2024 ficaram apenas duas e, em 2025, zero. A mudança sugere uma inversão de tendência no compromisso corporativo com objectivos de ambiente, sociedade e governança (ESG) no mercado norte-americano.

No mesmo período, a percentagem média de votos favoráveis a resoluções ambientais também recuou. Analistas do Conference Board sublinham que o resultado marca um afastamento súbito em relação às práticas observadas na Europa, onde as metas climáticas continuam a dominar a agenda das empresas cotadas.

Pressão política e jurídica condiciona gestoras e empresas

Vários factores explicam a quebra. O mais visível é o ambiente político. A campanha do Presidente Donald Trump em defesa dos combustíveis fósseis e contra a regulação climática influenciou parte do eleitorado e, por arrasto, o comportamento de investidores institucionais. Gestoras como State Street, BlackRock e Vanguard foram alvo de processos em estados liderados por republicanos, acusadas de discriminação contra a indústria de petróleo e gás devido aos compromissos de zero emissões líquidas até 2050.

Sob essa pressão, BlackRock e Vanguard abandonaram a Net Zero Asset Managers, aliança global dedicada a reduzir pegada carbónica nos portfólios. A decisão tornou-se um sinal para outros investidores, que preferiram não expor publicamente apoio a iniciativas susceptíveis de gerar críticas políticas ou novas acções judiciais.

A dimensão legal do tema ficou patente no processo intentado pela ExxonMobil contra os accionistas Follow This e Arjuna Capital. A petrolífera recorreu aos tribunais para impedir a votação de uma proposta climática na sua assembleia. Face ao litígio, ambos os grupos activistas desistiram de apresentar resoluções em 2025, o que contribuiu directamente para o número final de zero aprovações.

Transparência corporativa reduz espaço para novas exigências

Os autores do estudo identificam ainda um factor técnico: a melhoria na divulgação de métricas ambientais pelas empresas. Ao adoptarem relatórios mais detalhados sobre emissões, uso de energia ou investimento em energias renováveis, as companhias terão mitigado parte das preocupações dos accionistas. Para determinados investidores, as actuais práticas de reporte já respondem às exigências de gestão de risco climático, reduzindo o apelo a resoluções adicionais.

Efeito colateral nas propostas sociais

A contenção não se limitou ao pilar ambiental. O apoio às iniciativas de capital humano – que abrangem diversidade, equidade e inclusão (DEI) – encolheu para 9 % este ano, depois de ter alcançado 15 % em 2024. Especialistas em governança corporativa apontam um receio generalizado: qualquer sinal público de alinhamento com temas sociais ou climáticos poderá atrair críticas vindas da esfera política ou de grupos de interesses, colocando pressão sobre a reputação da empresa e sobre os gestores de activos que a apoiem.

Distância face à Europa aprofunda-se

A trajectória norte-americana contrasta com a realidade europeia, onde reguladores e investidores mantêm ênfase na neutralidade carbónica e em políticas de diversidade. Enquanto companhias europeias continuam a enfrentar votações exigentes sobre trajectórias de redução de emissões, as homólogas norte-americanas caminham em sentido oposto, num cenário cada vez mais polarizado.

Para 2026, consultoras ouvidas pelo Conference Board anteveem um calendário de assembleias igualmente desafiante para a agenda ESG. Caso o ambiente político permaneça adverso, é provável que os proponentes de resoluções climáticas aprofundem estratégias legais ou optem por negociações privadas, evitando exposições públicas que possam ser judicializadas.

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