Líderes do Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Polônia, Finlândia e da Comissão Europeia divulgaram, no fim de sábado (29), um comunicado conjunto pedindo que qualquer discussão de paz com a Rússia inclua obrigatoriamente o governo de Kyiv. A manifestação surge na véspera do encontro que o ex-presidente norte-americano Donald Trump planeja realizar com o presidente russo, Vladimir Putin, na sexta-feira, no estado norte-americano do Alasca.
Segundo autoridades da Casa Branca, Putin solicitou uma reunião bilateral, e Trump aceitou iniciar o diálogo nesse formato. Um assessor norte-americano afirmou, porém, que o republicano estaria disposto a transformar o encontro em uma conversa trilateral, caso o líder russo concorde com a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Até o momento, Moscou não se pronunciou sobre essa possibilidade.
No comunicado europeu, os líderes destacaram que “as fronteiras internacionais não podem ser alteradas pela força” e reforçaram o compromisso de manter apoio diplomático, militar e financeiro à Ucrânia. Eles também argumentaram que a estabilidade do continente depende de uma solução negociada que respeite a soberania ucraniana. A declaração foi antecedida por uma ligação telefônica, no sábado, entre Zelensky, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, na qual o chefe de Estado ucraniano reiterou preocupação com a exclusão de Kyiv das tratativas.
Zelensky classificou como “decisões mortas” eventuais acordos firmados sem participação ucraniana. Em publicação no Telegram, afirmou que “qualquer decisão contra nós é também contra a paz” e acusou Moscou de insistir na ideia de “trocar território ucraniano por território ucraniano”, o que, segundo ele, apenas daria à Rússia posições mais vantajosas para retomar a ofensiva no futuro.
Na sexta-feira (28), Trump declarou a jornalistas que “será necessário algum tipo de troca de territórios” para encerrar o conflito, iniciado há mais de três anos com a invasão em larga escala russa. Reportagem da emissora norte-americana CBS indicou que a Casa Branca tenta convencer aliados europeus a aceitar um entendimento pelo qual Moscou ficaria com toda a região de Donbas, no leste da Ucrânia, e manteria a Península da Crimeia, anexada em 2014. A informação reforçou o receio europeu de ser afastado de um processo que pode redefinir fronteiras no continente.
Macron, em mensagem publicada na rede X, alertou que a segurança da Europa está diretamente ligada ao desfecho das negociações e reiterou que os países europeus “necessariamente farão parte da solução”. A França, o Reino Unido e a União Europeia continuam a impor sanções a entidades russas e a fornecer armamentos às forças ucranianas, estratégia mantida desde o início da invasão.

Imagem: bbc.com
Enquanto isso, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, reuniu-se em Londres com o chanceler britânico David Lammy e com dois principais auxiliares de Zelensky: Andriy Yermak, chefe do gabinete presidencial, e outro conselheiro sênior não nomeado. Após a reunião, Yermak ressaltou que “uma paz duradoura só é possível com a Ucrânia à mesa de negociação” e reforçou que um cessar-fogo, por si só, não pode transformar a linha de frente em fronteira definitiva.
O encontro de sexta-feira, se confirmado, será a primeira reunião presencial entre presidentes dos Estados Unidos e da Rússia desde a cúpula de Genebra, em junho de 2021, quando Joe Biden se encontrou com Putin. O local escolhido, o Alasca, faz referência histórica à compra do território pelos Estados Unidos em 1867, após negociação com o Império Russo.
Desde que lançou a invasão em fevereiro de 2022, o Kremlin proclamou a anexação das regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson, embora não tenha controle total sobre nenhuma delas. A Rússia mantém domínio de extensas áreas do leste ucraniano, enquanto contra-ofensivas de Kyiv não conseguiram romper as linhas defensivas russas. Putin e Zelensky não se encontram pessoalmente desde a cúpula realizada em Paris em 2019, quando Angela Merkel ainda liderava a Alemanha.