Acciona e Mota-Engil avançam para fase final do túnel submerso Santos-Guarujá

Acciona e Mota-Engil avançam para fase final do túnel submerso Santos-Guarujá

A construção do primeiro túnel submerso do Brasil, que ligará Santos a Guarujá, tem agora apenas dois concorrentes: a espanhola Acciona e a portuguesa Mota-Engil. As duas empresas entregaram as propostas técnicas e financeiras no início da semana e disputarão o leilão marcado para 5 de setembro, na B3, em São Paulo.

Obra de R$ 6,8 mil milhões com forte participação pública

O projeto, avaliado em R$ 6,8 mil milhões, prevê a execução de um túnel imerso de 1,5 quilómetro, dos quais 870 metros sob o canal do porto de Santos. Desse montante, R$ 5,1 mil milhões serão financiados pelos governos federal e estadual em partes iguais. O modelo escolhido é uma Parceria Público-Privada (PPP) com concessão de 30 anos.

Além do investimento inicial, o poder público assumirá uma contraprestação anual definida em R$ 438 milhões. Vence o leilão quem oferecer o maior desconto sobre esse valor. A futura concessionária terá ainda de assumir despesas de desapropriação no valor estimado de R$ 544 milhões e definirá o traçado final do túnel entre as duas margens.

Experiência internacional influencia seleção

O edital impôs requisitos técnicos de nível internacional, o que afastou concorrentes nacionais que inicialmente demonstraram interesse, casos de Odebrecht, Andrade Gutierrez, Álya (ex-Queiroz Galvão) e Marquise. Para a Autoridade Portuária de Santos, a presença de grupos estrangeiros confirma a complexidade da obra e a adequação do modelo adotado.

A Acciona, que tem a chinesa CCCC como acionista, constrói atualmente a Linha 6-Laranja do Metro de São Paulo. Já a Mota-Engil, responsável pelo VLT de Salvador, reforçou a sua operação no país ao adquirir a totalidade da Empresa Construtora Brasil.

Impacto na mobilidade e detalhes das tarifas

Hoje, a travessia entre Santos e Guarujá faz-se maioritariamente por balsas, com tempo médio de 18 minutos e filas frequentes. De automóvel, o percurso rodoviário pode ultrapassar uma hora. Com o túnel, a estimativa é reduzir o trajeto para cerca de cinco minutos.

O sistema de portagem adoptará tecnologia free flow, sem cancelas, e cobrará nos dois sentidos. As tarifas definidas em edital são de R$ 6,15 para automóveis, R$ 3,07 para motociclos e R$ 18,35 para camiões de dois ou três eixos. A partir do sexto ano de operação, a receita tarifária projetada atinge R$ 2,3 mil milhões.

Licenças ambientais e segurança jurídica

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) emitiu licença prévia no início de agosto, garantindo a viabilidade ambiental do empreendimento. O aval antecipado foi interpretado como sinal de segurança para investidores estrangeiros.

Outro ponto resolvido antes do leilão foi a titularidade do ativo ao fim da concessão: o túnel passará a integrar o património da União. A definição, confirmada pela Advocacia-Geral da União, eliminou incertezas sobre o destino da infraestrutura.

Próximos passos

O leilão de 5 de setembro, em pregão presencial na B3, definirá qual das duas propostas oferece melhor relação custo-benefício para o poder público. Após a homologação, a vencedora terá de concluir estudos executivos, obter licenças de instalação e iniciar a obra.

Consultores do sector portuário sublinham os desafios técnicos de um túnel imerso num canal por onde passam navios todos os dias. Apesar dos riscos, consideram que a escolha recaiu em empresas com histórico de megaprojetos de engenharia, factor visto como essencial para o sucesso da iniciativa.

Com a construção do túnel Santos-Guarujá, o maior porto da América Latina ganhará uma ligação permanente entre as duas margens, prometendo diminuir filas, reduzir o tempo de deslocação de trabalhadores e agilizar a logística regional.

Posts Similares

Deixe uma resposta