Milhares acompanham a 100ª travessia anual dos pôneis selvagens em Chincoteague

Uma multidão estimada em milhares de pessoas se reuniu às margens do Canal de Assateague, no estado da Virgínia, para assistir à centésima edição da tradicional travessia dos pôneis selvagens de Chincoteague. O evento, ocorrido na manhã desta quarta-feira, manteve intactos os rituais iniciados em 1925, quando os animais cruzaram o canal pela primeira vez.

Antes do amanhecer, voluntários montados, conhecidos localmente como Saltwater Cowboys, conduziram a manada até a margem norte do canal. Sob o olhar atento de embarcações de apoio, os pôneis entraram na água e nadaram aproximadamente 300 metros até a face leste da Ilha de Chincoteague, onde foram saudados por aplausos e câmeras de visitantes vindos de várias partes dos Estados Unidos.

A operação de contenção e condução é repetida ano após ano pelos Cowboys, cujo trabalho consiste em manter o grupo unido, evitar que animais se distanciem da rota e assegurar que nenhum deles se machuque. Após tocar terra, os cavalos receberam uma breve inspeção veterinária antes de seguirem para os currais temporários montados pela corporação de bombeiros.

A responsabilidade pela travessia e pelo bem-estar dos pôneis é do Departamento de Bombeiros Voluntários de Chincoteague, que administra oficialmente o rebanho. Durante a maior parte do ano, esses animais vivem em estado semisselvagem na vizinha Ilha de Assateague, uma área de proteção ambiental localizada na divisa da Virgínia com Maryland.

Um dos pontos altos do evento é o leilão de alguns potros, realizado sempre após a chegada dos animais à ilha. A venda dos filhotes tem dupla finalidade: controlar o tamanho da população, evitando a superlotação dos pastos de Assateague, e arrecadar fundos para custear cuidados veterinários, alimentação suplementar em períodos críticos e manutenção das cercas que limitam a área dos pôneis.

Segundo os organizadores, o leilão tem impacto direto na sustentabilidade do rebanho. Ao selecionar apenas parte dos nascidos na temporada para serem comercializados, o departamento garante que a manada permaneça em um número compatível com a disponibilidade de alimento natural e com a capacidade do ecossistema de se regenerar.

Imagem: bbc.com

A tradição começou em 1925, quando a comunidade local buscava levantar recursos para comprar equipamentos de combate a incêndio. O sucesso da iniciativa transformou o desfile aquático em atração turística anual, que movimenta hotéis, restaurantes e comércio de lembranças em toda a região. A cada verão, moradores e autoridades se juntam aos visitantes para manter viva a prática, considerada um marco cultural do litoral atlântico norte-americano.

Nestes 100 anos, a travessia só foi viabilizada graças à colaboração de bombeiros, veterinários, voluntários e agências ambientais estaduais. Todos seguem protocolos de segurança para proteger tanto os cavalos quanto o público. Embarcações de apoio acompanhadas por mergulhadores ficam posicionadas em pontos estratégicos, prontas para intervir caso algum animal apresente sinais de fadiga ou desorientação durante o percurso.

Após o término do leilão, os pôneis não arrematados retornam a Assateague, onde permanecem até a próxima temporada. Já os potros vendidos são entregues aos novos proprietários com documentação de saúde e orientações sobre manejo adequado. O sistema de controle populacional, aliado às receitas obtidas com a venda, é apontado por especialistas como um modelo de conservação que concilia turismo, tradição e proteção animal.

Para muitos moradores, a edição centenária celebrou não apenas a resistência dos animais, mas também o empenho coletivo que mantém o evento em atividade desde a década de 1920. A expectativa é de que as cenas registradas neste ano – pôneis atravessando a água, cavaleiros guiando o grupo e público vibrando na chegada – se repitam nos próximos verões, perpetuando uma das mais antigas tradições equestres dos Estados Unidos.